Neste eterno país do futuro,
esperamos com paciência pela chegada daquilo que nunca fomos, e que com certeza
nunca seremos, se dependermos de ações parlamentares para as mudanças legais
que devam emanar do nosso mais que conservador Congresso Nacional.
O arcabouço jurídico nacional, criado
sob a inspiração do positivismo fundado por Auguste Comte, citado desde logo no
centro da bandeira nacional – Ordem e Progresso -, cuja Ordem tem servido para defender
criminosos do colarinho branco, encobrir falcatruas e livrar das penas
inscritas nos Códigos Penal e Civil e naquelas do Processo Penal e do Processo
Civil, aos cidadãos que se abrigam nas brechas dessas leis superiores – graças
a toda uma parafernália de recursos jurídicos à disposição de quem pode
sustentá-los à custa de muito dinheiro - e cujo Progresso chega sempre de forma
muito lenta para diminuir a brecha maior e insuportável das diferenças
provocadas pela infame distribuição da riqueza à brasileira.
O principal argumento que dá
sustentação ao positivismo jurídico nacional, na visão dos brasileiros, é o da
liberdade da individualidade do cidadão, em outras palavras, do respeito aos
direitos humanos consubstanciado no direito de fazer o que a lei permite, e desse
entrelaçado jogo vocabular as pessoas se aproveitam para navegar com seus
interesses que não levam em conta os interesses da maioria carente da sociedade,
contando, é óbvio, com a abrangência e oportunismo da legislação vigente.
E um juiz do Supremo Tribunal
Federal, um bedegueba bazofiador, com sua face autoritária de um semideus e seu
beicinho que lembra a beiçoca do índio Raoni, destaca-se como o maior
libertador de milionários criminosos do colarinho branco, utilizando-se do que
prescreve toda a legislação penal e civil brasileira, a começar pela
Constituição de 1988, a chamada Constituição Cidadã, eivada de conceitos e
princípios positivistas.
Mas no Brasil de hoje, o juiz que
arrosta a cidadania que não concorda com decisões embasadas no positivismo, que
livram os poderosos que podem pagar por caríssimas defesas com argumentos que
se sobrepõem às leis vigentes, estão sendo vaiados e verbalmente agredidos nos
recintos fechados dos aviões e até nos estádios de futebol. Como mostram os
registros de vídeo, apenas um juiz é unanimidade na aprovação popular, Sérgio
Moro, da Operação Lava Jato, que é aplaudido de pé em qualquer lugar em que se
faça presente.
Mas algo se salva do positivismo
jurídico brasileiro: a condenação em Segunda Instância, por exemplo, que já foi
aprovada até pelos juízes do Supremo Tribunal Federal. De repente uma surpresa
nos telejornais: o STF cogita voltar atrás numa decisão tomada anteriormente sobre
este mesmo tipo de condenação, valendo-se de uma interpretação fundamentada na
Carta Magna de 1988, e enquanto não houver mais um julgamento, não mais poderá
haver prisões após uma decisão de uma segunda instância judicial. Será este o
modo mais justo de uma Corte Suprema trabalhar com o conceito de segurança
jurídica?
Com certeza o condenado em segunda instância que puder (seja ele político,
do colarinho branco, narcotraficante ou assaltante de bancos), fatalmente
apelará para os inúmeros recursos jurídicos à sua disposição, e com a ajuda da protelação
do tempo eliminará a validade da pena a que foi sentenciado. Bom demais para os
poderosos condenados à prisão neste país do jeitinho, não é mesmo?
A legislação trabalhista
positivista, por sua vez, imposta por Getúlio Vargas, o cognominado “pai dos
pobres”, desde 1943, legou-nos uma herança maldita, da qual a sociedade do desempenho,
que substituiu a sociedade da disciplina do seu tempo, não consegue se
desligar.
Getúlio Vargas criou o salário
mínimo, o que nos faz imaginar como deveriam ser as condições sub-humanas de
sobrevivência antes da sua obrigatoriedade. Em compensação, as elites
econômicas e financeiras deste “meu Brasil, brasileiro” o atrelaram ao seu modus vivendi e, de modo engenhoso, o utilizam como parâmetro econômico e
financeiro e guia-mestre do funcionamento de todo o sistema econômico nacional,
com especial atenção para o setor financeiro e bancário, especialista em nos
cobrar juros de 400 a 500% ao ano, pelos maus serviços que nos presta.
Enquanto isso, os países mais
avançados pagam a seus assalariados com fundamento não apenas em um salário
mínimo, mas levando-se em conta o nível de desempenho dos indivíduos que
emprega. Ah! Mas eles dispõem de uma moeda forte! Dizem os nossos financistas. Que
maravilhosa descoberta dos nossos gênios da economia financeira!
Afinal, o capitalismo engenhoso
descobriu que a sociedade da disciplina era muito autoritária e fundamentada
numa só função de trabalho, dependente da contagem dos tempos tayloristas. Enfim,
considerado ultrapassado o antigo modelo, melhor seria uma sociedade do
desempenho, que se diz sustentada no conhecimento tecnológico, e na qual o trabalhador
passa a ser o senhor dos seus atos medidos pela produtividade, e num jeitoso
arranjo que faz os indivíduos desempenharem não apenas uma função, mas várias
outras de interesse da empresa, fazendo-se, por esse novo meio, escravo de si
mesmo.
Na sociedade do desempenho tu te
tornas eternamente responsável pelo nível de produtividade da profissão que te
cativa, e, nesta novíssima fase, és responsável por inúmeras funções para
receber o mesmo mísero salário mínimo. O que será que o capitalismo brasileiro inventará
para suceder a esta sociedade do desempenho? Quem sobreviver, com certeza verá
a próxima novidade.
E o Congresso Nacional, cujos
titulares, eleitos legal e legitimamente pelo voto livre e universal,
conhecendo a fundo as manhas e artimanhas das elites dominantes do país, estão
sempre apresentando propostas legais de mudanças que, lentamente, “mudam para
nada mudar”, pois sabem que “se não o fizermos, o povo o fará”, como ensina
Giuseppe Tomasi di Lampedusa em “Il Gattopardo”. Ver o filme, de 1963, dirigido
por Luchino Visconti, é mais rápido que ler o livro. Vale a pena, é uma boa
adaptação da obra escrita entre 1954 e 1957.
Quanto às verdadeiras mudanças
na legislação penal e civil, requeridas pelos novos tempos, de novos crimes do
colarinho branco engendrados com a ajuda da telemática, eles se recusam a
discutir. E aquelas outras mudanças, já vigentes em outros ordenamentos
jurídicos, importadas pelo judiciário brasileiro, como as anglo-saxônicas e norte-americanas
adaptadas e incorporadas pelos juízes da operação Lava Jato, os parlamentares
brasileiros caminham no sentido de não aceitar que sejam inseridas no
positivismo jurídico nacional.
Ora, o Brasil necessita de outras
urgentes mudanças estruturais para não só acompanhar o novo mundo da tecnologia
que domina os países mais avançados, mas principalmente recuperar todo o tempo
incrivelmente perdido pelos usos e abusos de suas elites governantes, pelo
menos no último século.
Nesse sentido, do avanço
tecnológico, nunca avançaremos como necessitamos se não nos decidirmos pelo
investimento massivo e maciço em educação, pelo menos no médio prazo.
No entanto, como fazê-lo se
não dispomos de recursos financeiros para tamanho desafio, se tivemos, nos
últimos tempos, governos que dilapidaram as finanças públicas com uma visão
ideológica de mundo ultrapassada e contrária ao nacionalismo para o qual, com
muito atraso, só agora, com as últimas eleições, fomos despertados?
E com este Congresso
Nacional, atolado em convescotes que defendem a indefensável corrupção que
envolve inúmeros parlamentares em ambas as Casas, tudo leva a crer que somente
novas eleições renovadoras que eliminem uma incrível corja de indivíduos que só
pensam em seus próprios interesses, sem qualquer compromisso com o destino da
nação, que só querem do eleitor o voto que os elege, só nos resta esperar e
confiar que o tempo seja senhor da razão e os eleitores nos livrem dessa gente,
fazendo uma limpeza geral no poder Legislativo como a cidadania exige e jamais
foi feita antes.
Para concluir, e o título
deste longo texto nos obriga - temos que falar um pouco sobre a China
contemporânea com seus avanços na área da engenharia civil, e um pouco também
sobre o desempenho dos políticos naquele país, mais uma vez o centro do mundo.
E por que falar pouco sobre a
política e os políticos chineses de hoje?
Porque todos nós sabemos que a China
totalitária de Mao Tsé-Tung não é a mesma de Deng Xiaoping recebida pela
liderança de Xi Jinping, seu atual presidente e secretário geral do partido
comunista chinês. A China de hoje não é mais aquela desenhada pelo comunismo
maoísta, o antigo Império do Meio transformou-se em um estado autoritário
moderno e altamente capitalista que caminha para ser o país mais poderoso do
planeta em termos econômicos, financeiros e tecnológicos, superando os Estados
Unidos da América.
A China é governada por
políticos compromissados com o destino da nação, altamente autoritários, como
mostra o modelo de governança que assumiram frente ao mundo, mas um exemplo de
sucesso econômico, financeiro e tecnológico que assusta aos demais estados pela
sua competência. Existe democracia na China? Sim, existe democracia na China,
aquela que o partido único e os políticos chineses criaram, e o povo assumiu.
Enquanto Deng Xiaoping dizia que “não
interessa a cor do gato, o que importa é que ele pegue o rato”, em outras
palavras, não interessa o modelo econômico, o que importa é que ele gere
excedentes econômicos, o Brasil construía a hidrelétrica de Itaipu, a maior do
mundo à época, e a ponte Rio-Niterói, também à época a maior do planeta,
construída sobre o mar, com quatorze quilômetros de extensão, duas incríveis obras
da engenharia civil brasileira.
Hoje, a China autoritária
constrói maravilhas da engenharia civil: uma ponte sobre o mar com cinquenta e
um quilômetros de extensão, três vezes maior que a ponte Rio-Niterói; uma
autoestrada com 1.300 quilômetros de extensão, da China ao Paquistão, por sobre
despenhadeiros incríveis, rios, lagos e outros desafios naturais: Kurakoran, é o nome que lhe foi dado pelos chineses,
conhecida mundialmente como a oitava maravilha do planeta. E nós continuamos esperando
pela conclusão da Transamazônica. E, para diversão e regozijo dos cidadãos, eles
construíram uma gigantesca ponte de cristal, com uma cascata deslumbrante
desabando de suas bordas, no desfiladeiro de Quinyuan, que lembra uma grande
raquete, por isso mesmo apelidada de “A grande raquete”, a 500 metros do solo!
E o Brasil de hoje, o que
constrói? Nada de importante, apenas cuidamos de um monte de escombros que
representam uma era de invejável desenvolvimento nacional: grandes obras
paralisadas, pouca manutenção daquilo que resta de um passado de construções
ambiciosas, rodovias esburacadas e mal sinalizadas e uma montanha de impostos,
taxas e contribuições obrigatórias que apenas servem para encher os cofres da
receita federal. Sem falar do péssimo sistema educacional, do falido serviço de
saúde pública, da imprestável segurança pública e de muitas outras mazelas,
como os milhares de pardais eletrônicos que criaram uma indústria da multa de
trânsito, graças às destruidoras levas de governantes inebriados por uma ultrapassada
ideologia de esquerda, e que apenas mentiam enquanto assaltavam os cofres da nação
e distribuam migalhas ao povo iludido.
Não defendemos a adoção
de um regime político autoritário como o chinês. Aliás, Carl Schmitt, o jurista
da República de Weimar, o preferido de Adolf Hitler, na década de 1930, dizia
que “soberano é aquele que decide sozinho sobre o que é excepcional”, e como
tanto o Legislativo quanto o Judiciário só podem tomar decisões com atraso,
resultado do seu modelo coletivo e discursivo de decisão, compete ao Executivo
agir de imediato e sem sofrer pressões. Na China, o poder Executivo não precisa
consultar o Legislativo nem o Judiciário para tomar decisões excepcionais pertinentes
ao desenvolvimento do país, segundo uma agenda política de longo prazo. Com
certeza este é um dos fundamentos para o sucesso chinês.
Queremos apenas que o
nosso regime republicano tripartite funcione como deve e pode, mas em
obediência a uma agenda política e de planejamento de longo prazo, que atenda
aos interesses e à potencialidade do país: com presteza e agilidade, com responsabilidade
e honestidade absoluta dos governantes, dos partidos políticos e seus
dirigentes e dos parlamentares que são eleitos para nos representar, uma gente
que esteja fortemente tocada por um nacionalismo sadio que se faça respeitar no
plano internacional perante as demais nações deste planeta, capaz de defender o
país acima de todo interesse nefasto, de indivíduos ou de outros países, sobre
o nosso território nacional, em especial defendendo a soberania amazônica que
representa mais de 51% do território do nosso maravilhoso Brasil.
Enfim, que venha a
agenda brasileira de longo prazo, uma dívida em aberto de todos os partidos
políticos, de todas as esferas de governo e dos três poderes legal e
legitimamente constituídos, para que retomemos o rumo do verdadeiro
desenvolvimento e crescimento econômico que o povo brasileiro merece e aguarda
com ansiedade.
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