Para José Manuel Zelaya Rosales, o ex-presidente hondurenho deposto, legalmente, no dia 28 de junho de 2009, houve um alto de abstencionismo nas últimas eleições presidenciais realizadas no dia 29 de novembro passado em seu país. Segundo o ex presidente, 65% dos eleitores não compareceram para exercer o direito de votar.
Encerrado por escolha própria na Embaixada brasileira em Tegucigalpa, desde o dia 21 de setembro do ano que passou, Mel Zelaya não pode assistir ao massivo comparecimento às urnas nestas cruciais eleições em novembro de 2009, o maior de todos os tempos, pois 2,3 milhões de eleitores, de um total de 4,6 milhões, cumpriram sua cívica obrigação, e isto apesar das ameaças de boicote e terrorismo que os zelaistas lançaram contra a população. Ressalte-se, ainda, que dos 4,6 milhões de eleitores hondurenhos, a metade vive fora do país.
Nas eleições presidenciais de 2005, Mel Zelaya conseguiu eleger-se com menos de um milhão de votos, já em 2009, Porfirio Lobo Sosa alcançou 1,2 milhão de votos válidos, convertendo-se no presidente mais votado da história política hondurenha, tendo o restante dos votos sido distribuídos entre os demais candidatos, sendo 900 mil votos para Elvin Santos, que exerceu a vice-presidência do governo zelaista até dezembro de 2008, quando desincompatibilizou-se do cargo para poder concorrer à presidência no ano seguinte.
O candidato Elvin Santos já reconheceu como válido o resultado eleitoral que deu a vitória a Porfirio Lobo Sosa, enquanto Zelaya, Chávez e Lula afirmam que não a reconhecem.
No dia 27 de janeiro corrente, portanto, o Presidente eleito em Honduras no dia 29 de novembro de 2009, como manda a Constituição do país, o cidadão Porfirio “Pepe” Lobo Sosa, em ritual oficial, receberá a faixa presidencial que lhe será repassada pelo presidente do Congresso Nacional hondurenho, o parlamentar José Alfredo Saavedra.
A cerimônia de posse do novo presidente hondurenho não deverá contar com a presença dos chefes dos poderes Executivos das mais importantes e poderosas nações do mundo, pois a grande maioria deles, por não disporem de assessoramento internacional verdadeiramente interessado na democrática e transparente Carta Magna de Honduras, preferiram defender, nos últimos sete meses, o pretendido golpe bolivariano encabeçado pelo ex-presidente José Manuel Zelaya Rosales, um filhote político do presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Na verdade, os governos dos EUA e da Espanha, ou seja, Barack Obama, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2009, e José Zapatero, líder do Partido Socialista Obrero espanhol, defendem a democracia no resto do mundo, em especial no continente americano, mas desde que esta velha senhora não atrapalhe seus projetos de liderança regional absoluta, leia-se: os EUA querem aproveitar o caso hondurenho para mandar um recado de que não aceitam nem apóiam golpes de Estado na América Latina, muito embora isso não tenha ocorrido em Honduras, nem, tampouco, admitem que seus interesses comerciais com a Venezuela sejam contrariados por qualquer tipo de interferência a favor de Honduras, pois tanto os EUA quanto a Espanha constituem-se, o primeiro, um grande comprador de petróleo venezuelano, e o segundo, um grande vendedor de aviões de transporte de tropas e fornecedor de outros itens da pauta de importações da Venezuela.
Por enquanto, os representantes latinoamericanos da “esquerda raivosa” (Cuba e Venezuela), da “esquerda festiva” (Brasil e Argentina) e da “esquerda capacho” (Bolívia e Equador), estão apenas decepcionados com o insucesso bolivariano em Honduras, ou melhor, estão muito doídos porque este pequeno país centroamericano conseguiu deter o avanço hemisférico do chavismo, expulsando-o, democraticamente, de suas instituições quando já acreditava ter-se delas apoderado de forma irreversível.
Mas a “esquerda raivosa, a esquerda festiva e a esquerda capacho” latinoamericanas não baixam a guarda nunca, e continuam investindo contra a democracia hondurenha, por meio dos seus representantes encastelados em organismos internacionais, por exemplo, pela palavra do secretário geral da OEA, José Miguel Insulza, o chileno que pede, em nome dessa instituição internacional, insistentemente, junto com a diplomacia norteamericana, que o presidente de direito de Honduras, Roberto Micheletti, duas vezes confirmado pelo Congresso Hondurenho nos últimos seis meses, entregue o cargo a um “governo de conciliação nacional”, como estabelecido pelo Acordo de Tegucigalpa-San José, aprovado pela OEA e pelos EUA, antes do dia 27 de janeiro de 2010, bem como que o Congresso Nacional Hondurenho aprove uma lei de anistia geral que beneficie, indistintamente, todos os envolvidos na crise iniciada por José Manuel Zelaya Rosales em 23 de março de 2009, com a convocação ilegal de um plebiscito para aprovar a sua reeleição á presidência de Honduras, e que culminou com a sua deposição legal, com amparo constitucional, no dia 28 de junho desse mesmo ano.
Ora, o que a “esquerda raivosa, a esquerda festiva e a esquerda capacho” querem é deixar o ovo da serpente plantado no território hondurenho, para, em seguida à posse de Porfírio Lobo, o mundo voltar a assistir ao espetáculo de nova tentativa de Mel Zelaya e seu grupelho bolivariano para tentar implantar o modelo de democracia chavista em Honduras.
Infelizmente para o chavismo, e felizmente para o processo democrático no continente americano, os políticos e o povo hondurenho não vão aceitar os aconselhamentos dos EUA ou da OEA, e seguem resistindo com bravura e independência a tais disparatadas orientações, lutando corajosamente contra tudo e contra todos aqueles que queiram introduzir um verdadeiro Cavalo de Tróia no interior da jovem cidadela democrática de Honduras, e resistem amparados apenas nos fundamentos básicos da sua moderna Carta Magna, promulgada em 11 de janeiro de 1982.
Com certeza, na seqüência da posse de Porfirio “Pepe” Lobo Sosa, o ritual democrático hondurenho deverá ter continuidade, e o ex-presidente Mel Zelaya, se permanecer no território nacional, sofrerá o devido processo legal, de acordo com as leis locais, e será enquadrado para responder pelos dezoito crimes que cometeu, cinco constitucionais e treze penais, depois disso, sim, poderá receber um indulto presidencial para que busque asilo em outras terras, podendo optar entre Venezuela, Cuba, México, Espanha ou Brasil, países dispostos a recebê-lo com todas as honrarias que não recebe em seu próprio torrão natal.
O resultado das eleições presidenciais hondurenhas serve para demonstrar mais um fiasco do comportamento da diplomacia brasileira no duplo período de governo do Partido dos Trabalhadores, entre 2003 e 2009, pois apostou, equivocadamente, que o caso de Honduras se apresentava como uma oportunidade de ouro, de baixo risco político e de quase nenhum custo financeiro, para demonstrar ao mundo, que nessa tragicomédia embarcou de braços dados com os governantes brasileiros, seu poder e influência nas terras situadas abaixo da linha do Equador, não o país do presidente Rafael Correa, mais um adepto fervoroso do bolivarianismo, mas, sim, o círculo máximo da esfera celeste, perpendicular á linha que une os pólos terrestres.
Creio que no próximo texto será possível apresentar um breve resumo da trajetória política do ex-presidente José Manuel Zelaya Rosales, com destaque para o desastre em que se constituíram seus três anos e meio à frente da Presidência de Honduras.
(Texto elaborado e concluído em 07 de janeiro de 2010)
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